22 de abril de 2017

CONTOS

O AMOR DE UM HERÓI DE GUERRA – RAFAEL ZIMICHUT


IAN BLACKTHORN era um oficial da Marinha Americana aposentado, tinha participado de diversas batalhas e sido um dos homens mais condecorados de seu tempo por seus feitos, porém, como tudo nessa vida, tem um início, meio e fim, e por mais que ele não quisesse aceitar, não poderia mais continuar com seu sonho por causa de uma ação malsucedida.
Incontestavelmente era um herói de guerra, mas não somente agia como um, mas sua mente não poderia pensar em outra coisa além de fazer o que era certo.
Ian acordou no hospital totalmente fora de si, depois daquele dia nunca mais conseguiu sonhar com outra coisa além daquela noite que encerrou todos os seus sonhos.
Ian aposentou-se Major e comprou um apartamento em Nova York para ter, pelo menos, uma vida um pouco agitada, afinal, ter uma vida rodeada de disparo de canhões não era uma vida normal, e o barulho da Megalópoles fazia acalmar um pouco os demônios que insistiam em atormentá-lo em seus sonhos noturnos.
Até que tudo mudou quando conheceu Ada Clivert.
Ada Clivert, era uma ruiva de olhos azuis, dona de um corpo que fazia qualquer homem se perder naquelas curvas, e a primeira coisa que aconteceu com Ian foi exatamente isso.
Pela primeira vez na vida, Ian não sabia o que iria acontecer, pois todas as vezes seu trabalho o impedia, mas agora o caminho estava livre e ele não sabia o que fazer com sua liberdade.
O relacionamento ia de vento em polpa e pela primeira vez na vida ele percebeu que a felicidade se encontrava em coisas simples e era muito diferente fazer amor com alguém que tinha algo realmente sério.
Aquela primeira noite juntos tinha sido um sonho, mas como em todas as noites, Ian acordou banhado em suor com aquele maldito dia que tinha encerrado uma vida vitoriosa. Ada o abraçou e disse:
- Daqui para frente suas únicas batalhas serão para me conquistar todos os dias, e suas medalhas de Honra serão as noites de amor que teremos daqui até o último dia de nossas vidas.







2 de abril de 2017

NADA SE MULTIPLICA DO ZERO

NADA SE MULTIPLICA DO ZERO
Hoje me veio uma lembrança engraçada de quando tinha dez anos de idade, um garoto da escola onde estudava em Campo Limpo Paulista (SESI) foi chamado para escrever uma poesia para o prefeito da cidade, seu rosto e a poesia estava estampados na folha do Jornal e tudo o mais, admito que fiquei com muita inveja e ficava pensando com meus botões: "Porque ele e não eu?", passaram-se 25 anos e aprendi a resposta, eu não tinha feito a poesia, não sabia que era para escrever uma poesia para o prefeito, quiçá sabia escrever uma, ou pior, nem sabia o que era poesia, mas queria minha foto no jornal em destaque, mas a verdade é essa: Eu não tinha feito absolutamente nada para merecer tal honraria.
Na minha cabeça infantil tinha algo que alguém um dia chegaria e faria algo por mim sem eu ter feito absolutamente nada, simplesmente Deus em sua infinita bondade apareceria, ou um anjo me daria algo pelo simples fato da minha vida não ser tão boa quanto eu gostaria, mas isso não existe, é ação e reação, quando eu faço algo, logo sou reconhecido caso seja bem-feito e tenha certa notoriedade, no mais posso ter o azar, ou simplesmente não foi na hora certa que isso aconteceu, mas o fato de não ter feito já me habilita para que eu não viva.
Alguns anos depois, outro amigo de minha classe no SESI foi premiado para que seu desenho estampasse a medalha dos Jogos Escolares daquele ano, também fiquei com certa inveja dele por ter vencido, mas me pergunta: fiz o bendito desenho para concorrer? A resposta é não!!!
Por mais discalculia que eu tenha, até eu sei que qualquer número que se multiplique por zero, a resposta é zero, alguns até afirmam que zero nem sequer é um número ímpar ou par, é nulo, não vale absolutamente nada, assim como os seus resultados, se tenho zero de ação, meus resultados são zero, simples lógica da vida.
Alguns anos mais tarde escrevi um livro e fiz seu lançamento na maior feira literária da América Latina, a Bienal de São Paulo de 2016, e então fui capa do jornal da cidade e dei minha primeira entrevista, o que meus companheiros de classe não fizeram, claro, eles não escreveram um livro, quando fiz algo, tive minha cota de merecimento nas devidas proporções, isso é o que chamamos de causa e efeito.
Quando comecei a escrever livros, recebi uma dica da qual nunca mais me esqueço, mesmo que não esteja inspirado ou não saiba o que escrever, escreva... Baseado nisso comecei a escrever, óbvio que meu primeiro livro não saiu espetacularmente bom, tive que refazê-lo mais tarde, porém, era o primeiro passo, sem ele nenhum dos outros mais de 30 teriam nascido, a Bienal não teria rolado 15 anos depois, não teria sido coautor de um livro com o Roberto Shinyashiki (Um Natal Inesquecível) e nem participado de uma Antologia de Poesias.
Hoje em dia quando aparecem oportunidades de mandar um texto, não perco tempo, simplesmente escrevo e mando, se está bom ou não, não sou eu que vou julgar, mas o não já é garantido, então vou e mando, tem dado certo, pois mandei dois textos e fui premiado nos dois, é a Lei da Causa e Efeito cumprindo seu papel, poderia não ter sido escolhido, porém, se não mandar já estou de fora.
Então, saiba que o universo não conspira a favor daqueles que não agem, mesmo um primeiro passo é possível ser transformado em uma caminhada extraordinária, o fato é que um passo pode ser algo, nenhum passo já não é nada.